Os especialistas em ética em pesquisa estão preocupados com as maneiras crescentes pelas quais os cientistas podem falsificar ou manipular a contagem de citações de seus estudos. Práticas cada vez mais descaradas surgiram nos últimos meses. Um método foi revelado por meio de uma operação policial em que um grupo de pesquisadores comprou 50 citações para aumentar o perfil do Google Scholar de um cientista fictício que eles criaram.

Os cientistas compraram as citações por US$ 300 de uma empresa que parece vender citações falsas em massa. Isso confirma a existência de um mercado negro de credenciais falsas sobre o qual os detetives da integridade da pesquisa especulam há muito tempo, diz a equipe.

“Começamos a notar vários perfis do Google Scholar com históricos de citações questionáveis”, diz Yasir Zaki, cientista da computação da Universidade de Nova York (NYU) Abu Dhabi, cuja equipe descreveu a operação Sting em uma pré-impressão de fevereiro. “Quando um manuscrito recebe centenas de citações poucos dias após a publicação, ou quando um cientista tem um aumento repentino e massivo nas citações, então você sabe que algo está errado.”

Essas práticas são preocupantes porque muitos aspectos da carreira de um pesquisador dependem de quantas referências seu trabalho recebe. Muitas instituições utilizam contagens de citações para avaliar cientistas, e os números informam métricas como o índice h, que se destina a medir a produtividade dos cientistas e o impacto dos seus estudos.

Manipulação de citações pode ter consequências reais. Em Junho, o jornal espanhol El País noticiou que o Comité de Ética em Investigação do país tinha pedido à Universidade de Salamanca que investigasse o trabalho do seu recém-nomeado reitor Juan Manuel Corchado, um cientista da computação acusado de inflar artificialmente as suas métricas do Google Scholar.

Referências à venda

Os especialistas em ética em pesquisa já suspeitavam que as citações em Fábricas de papel estão à venda serviços que produzem estudos de baixa qualidade e vendem autorias em artigos já aceitos, diz Cyril Labbé, cientista da computação da Universidade de Grenoble Alpes, na França. “As fábricas de papel têm a capacidade de incluir citações nos artigos que vendem”, diz ele.

Em novembro de 2023, a empresa de análise Clarivate, com sede na Filadélfia, Pensilvânia, excluiu mais de 1.000 pesquisadores de sua lista anual de pesquisadores altamente citados devido ao medo de manipulação de citações e 'hiperpublicação'.

Em sua operação secreta, Zaki e seus colegas criaram um perfil no Google Scholar para um cientista fictício e carregaram 20 artigos criados com inteligência artificial.

A equipe então recorreu a uma empresa que encontrou enquanto analisava citações suspeitas vinculadas a um dos autores em seu conjunto de dados, que parecia estar vendendo citações para perfis do Google Scholar. Os autores do estudo entraram em contato com a empresa por e-mail e posteriormente se comunicaram via WhatsApp. A empresa ofereceu 50 citações por US$ 300 ou 100 citações por US$ 500. Os autores escolheram a primeira opção e 40 dias depois, 50 citações de estudos em 22 periódicos – 14 dos quais estavam na base científica indexada pela Scopus – foram adicionadas ao perfil fictício do pesquisador no Google Scholar.